Mais uma vez, os estados do Sudeste concentram o maior número de roubos de cargas: 80% dos registros desse crime são feitos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, segundo dados divulgados pela plataforma Nstech, que trabalha com gestão de risco no monitoramento de roubos de cargas no país.
Os principais alvos dos criminosos são cargas diversas — produtos diferentes em um mesmo caminhão — que somam 58% das ocorrências. Gêneros alimentícios representam 22% dos roubos e eletrônicos, 9%.
Só nos últimos dez anos, esse tipo de crime vem causando um prejuízo estimado entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano. E isso reflete na vida do consumidor, que acaba pagando frete mais caro em função dos custos de segurança que precisam ser embutidos nessa fatura.
A prevalência dos roubos em estados do Sudeste tem explicação, diz o especialista em segurança pública e presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, José Ricardo Bandeira. A grande grande circulação de mercadorias e a concentração do Produto Interno Bruto (PIB) na região são os principais fatores, mas não os únicos.
“Nós temos que citar também a atuação de quadrilhas especializadas. Existem quadrilhas na região Sudeste que são compostas por criminosos de grupos especializados em roubo de cargas e esses grupos têm uma estrutura e uma logística mais sofisticada do que as quadrilhas que atuam em outras regiões”, avalia Bandeira.
Escoamento facilitado
A prevalência desse tipo de crime na região Sudeste também pode ser atribuída à facilidade de escoamento das mercadorias roubadas. A maior malha rodoviária do país também se concentra nessa região, permitindo acesso dos criminosos pelas vias rapidamente. Portos, como o de Santos, por exemplo, além do Rio de Janeiro, também permitem o escoamento ágil do produto de roubo.
Sabendo disso, as quadrilhas se aproveitam, avalia Ricardo Bandeira.
“Essas quadrilhas têm modus operandi muito específicos. Entre eles, a gente pode citar informações de inteligência. Essas quadrilhas monitoram as rotas e horários dos caminhões, muitas vezes com auxílio de informantes dentro das próprias empresas de transporte.”
Esses grupos também se caracterizam por fazer abordagem violenta, usando armas de grosso calibre e até mesmo armas de guerra, como fuzis, para fazer essa abordagem no momento do roubo, explica o especialista.
Outra prática comum entre as quadrilhas é a dissimulação das cargas roubadas. “Eles modificam embalagens e pulverizam essa mercadoria em diversos locais, principalmente os que são dominados pelo crime organizado e onde a ação da polícia é extremamente dificultada”, explica Bandeira.
O especialista ainda cita um outro grave problema: a corrupção. Que segundo ele, vem não apenas dos funcionários das empresas, como também de órgãos e agentes públicos.”
PRF
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informa que foram registrados, no primeiro semestre deste ano, 358 roubos de cargas nas rodovias federais. O número é 10,5% menor que no mesmo período de 2023. A PRF informou ainda que atua de diferentes formas na prevenção e combate a este tipo de crime.
Entre as ações, estão o policiamento orientado pela inteligência feito pela PRF para evitar que os crimes ocorram e para apurar as ocorrências, o patrulhamento ordinário feito pelos policiais e as operações destinadas ao combate ao roubo e ao furto de cargas nas rodovias federais.